M.E. MATIAZZO, N.A. DA GLÓRIA* e V. PEREIRA**

RESUMO

O presente estudo teve por objetivo definir a forma mais adequada de se amostrar o solo nas áreas de reforma dos canaviais procurando-se aferir o número de amostras representativas da área, a localização das amostras simples tendo em vista que podem existir dois locais para retirada das amostras simples e a influência da época de retirada das amostras (tendo em vista o estágio de desenvolvimento da cultura e umidade do solo na época da retirada).

Concluiu-se que a área uniforme de 9 ha ocupada anteriormente com cana-de-açúcar teve sua fertilidade média estimada por duas (2) amostras simples retiradas em posições distintas da área e após o preparo do sola

No caso da necessidade de se amostrar o solo com a cultura presente podem ser retiradas duas (2) amostras compostas de 4 amostras simples na proporção de 1 amostra na linha para três (3) nas entrelinhas.

Entretanto, a amostragem feita com a cultura presente poderá subestimar a necessidade de adubação.

INTRODUÇÃO

A avaliação da fertilidade do solo e consequente necessidade de adubação das culturas em geral e da cana-de-açúcar em particular pode ser feita por vários métodos, e dentre eles os mais utilizados são:

Dentre essas três opções, em dúvida, a melhor é a terceira. Entretanto devido à heterogeneidade dos solos e às diferentes respostas das variedades, haverá necessidade de um grande número de experimentos a fim de se obter uma avaliação adequada das necessidades nutricionais da cana-de-açúcar.

Atualmente nem a análise de solo nem a de tecido vegetal são sistemas completos de diagnose de fertilização. A análise de solo não permite aferir, entre outras, as necessidades de nitrogênio e as de tecido vegetal carecem de estudos que permitam definir os chamados "níveis críticos" ou "econômicos" sem os quais não será possível corrigir o estado nutricional da cana. No caso da análise de solo, apesar da deficiência já citada em relação ao nitrogênio, os resultados são mais consistentes com as produções obtidas e as disparidades que ainda são encontradas, podem em grande parte, ser creditadas à forma inadequada de amostragens de solo (ou não representativas do todo de onde elas foram retiradas).

Duas das fontes de erro mais freqüente podem ser relativas ao número de amostras representativas da área e outra, refere-se à época da amostragem. Além desses aspectos deve-se considerar que quando se pretende adequar a fertilização das soqueiras de cana-de-açúcar em função da análise de solo, há uma dificuldade muito grande em estabelecer qual a maneira mais representativa de se amostrar o solo, considerando que existem duas áreas a serem amostradas: a linha e a entrelinha.

Outro aspecto relacionado com essa situação, porém referente a fertilização das áreas de reforma de canaviais, diz respeito à sistemática de trabalho na usina. Atualmente há necessidades de se iniciar a amostragem dos solos das áreas de reforma logo no início da safra (ou mesmo antes do início) a fim de não se ter um acúmulo de análises no final da safra e se poder avaliar as necessidades de fertilizantes de forma a proceder a compra desse insumo.

Nesse sentido o presente estudo pretende definir a forma mais adequada de se amostrar as áreas de reforma dos canaviais, procurando-se aferir a influência da época da amostragem, número e localização das amostras e forma de combinação das amostras simples no resultado final da avaliação de fertilidade.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo constituiu-se de um experimento montado em um Latossol Roxo Distrófico (LR 4) em talhão com soqueira de cana-de-açúcar de último corte, pertencente à Companhia Agrícola Sertãozinho (Usina Santa Elisa) em Sertãozinho, Estado de São Paulo. No talhão escolhido foram demarcados 9 ha que apresentavam bastante uniformidade em termos de solo e topografia e no interior do mesmo foram estabelecidas as áreas do experimento (5 áreas de 1 ha cada uma), afastadas das extremidades e distribuídas conforme representado esquematicamente na Figura 1.

De cada uma das áreas do experimento (quadriláteros) periodicamente foram retiradas amostras de terra utilizando-se a seguinte metodologia em função da presença ou não de cana no talhão:

a) Com cana no talhão de cada quadrilátero (A - B - C - D - E) foram retiradas 20 amostras de terra sendo 15 (quinze) amostras nas entrelinhas e 5 (cinco) amostras nas linhas. Essas amostras foram retiradas ao acaso e distribuídas por toda a área do quadrilátero Nessa condição (com cana no talhão) foram feitas 6 (seis) amostragens.

b) Sem cana no talhão porém sem destruição das soqueiras: procedeu-se conforme já especificado no ítem a. Nessa condição fez-se uma amostragem.

c) Sem cana no talhão, após a destruição das soqueiras (ou após o preparo de solo) de cada quadrilátero foram retiradas 20 (vinte) amostras distribuídas ao acaso e por toda a área do quadrilátero. Nessa condição fez-se uma amostragem.

Todas as amostras foram retiradas com trado à profundidade de 0-20 cm e foi observado o cuidado de raspar o palhiço e/ou detritos vegetais antes de se efetuar a retirada do solo. Uma vez no laboratório as amostras foram secas à 70-80⁰C até peso constante, destorroadas e passadas em peneira de 2 mm de malha.

De posse das amostras individuais de terra procedeu-se às combinações entre as amostras obtidas em quadriláteros diferentes. Essas combinações entre amostras foram chamadas de tratamentos e são as seguinte:

Os tratamentos T₃ - T₄ - T₅ e T₆ foram compostos no laboratório tendo-se o cuidado de usar sempre volumes iguais de material de cada amostra e homogeneizá-las posteriormente. Todos os tratamentos foram considerados com 2 repetições.

As amostras sorteadas para compor essas combinações bem como os quadriláteros e tratamentos correspondentes encontram-se indicados pelo Quadro 1. Procedeu-se a seguir à análise química das amostras individuais de terra e das combinações entre elas de acordo com as metodologias propostas por VAN RAIJ e ZULLO (4), para análise de carbono e por CATANI e JACINTHO (1), para as demais determinações.

RESULTADOS OBTIDOS E DISCUSSÃO

Para fazer a discussão dos resultados obtidos procurou-se ter em vista que a cana-de-açúcar é atualmente cultivada em grandes extensões e que o tamanho de um talhão é bastante variável "e não é viável" na prática se recomendar número de amostras representativas para 1 ha, preferindo-se estabelecer uma área maior e em média de 9 ha.

QUADRO 1- Composição dos tratamentos1-2-3-4-5 e 6 entre os cinco quadriláteros.

Procurou-se primeiramente avaliar qual o nível médio de fertilidade da área de 9 ha sob estudo e para esse fim as 20 amostras de terra retiradas de cada quadrilátero e a média das 100 amostras retiradas da área sob estudo foram dispostas nos níveis de fertilidade de CATANNI e JACINTHO (1) e em função desses níveis construiu-se o Quadro 2.

Pelo exame dos Quadros 2 (a, b, c e d) observa-se que na primeira amostragem, no quadrilátero A, 100% das amostras analisadas tiveram seus valores de pH no nível "acidez média", portanto no quadrilátero A, a média dos resultados das 20 amostras de terra analisadas também correspondeu ao nível "acidez média". A média geral da área em estudo (9 ha) que corresponde à média das 100 amostras de terra retiradas situou-se no nível "acidez média". Assim foi feito para cada quadrilátero, para cada elemento analisado e para as diferentes épocas de amostragem.

Pode-se também observar pelo exame do Quadros 2 (a, b, c e d) que apesar da área do experimento ser visualmente uniforme o comportamento dos quadriláteros são diferentes, isto é, o quadrilátero A é diferente dos demais no que se refere ao fósforo (a maior porcentagem das amostras se apresenta no nível baixo de fósforo) e o quadrilátero D é diferente no que se refere ao cálcio.

Portanto se uma amostragem visando à um programa de recomendação de adubação for feita numa área restrita poderá acarretar erro nos cálculos de adubação. Para se fazer uma amostragem representativa da área é necessário um bom caminhamento, ou seja, retirar amostras de pontos distantes entre si na área considerada, caso contrário se terá uma estimativa errônea da média de fertilidade naquele local.

Também se pode observar pelo exame do Quadro 2 (a, b, c e d) com os resultados de fósforo (que juntamente com potássio são os elementos que em todas as amostragens se distribuíram nos 3 níveis de fertilidade) que enquanto nas 7 primeiras amostragens a maior porcentagem das amostras se distribui no nível médio, na 8a amostragem a maioria se distribui no nível baixo (75% no quadrilátero A, 85% no quadrilátero C) podendo-se mesmo dizer que a média dos quadriláteros C, D e E só pode ser incluída no nível médio em virtude de algumas amostras de terra desses quadriláteros apresentarem um teor alto de fósforo.

Quadro 2a – Distribuição em níveis de fertilidade* dos resultados analíticos das amostras de cada quadrilátero (em porcentagem), das médias dos seus resultados (20 amostras) e da média da 100 amostras da área sob estudo.(para as primeira e segunda épocas)

(*) de acordo com CATANI & JACINTHO

Quadro 2b – Distribuição em níveis de fertilidade* dos resultados analíticos das amostras de cada quadrilátero (em porcentagem), das médias dos seus resultados (20 amostras) e da média da 100 amostras da área sob estudo.(para as terceira e quarta épocas)

Quadro 2c – Distribuição em níveis de fertilidade* dos resultados analíticos das amostras de cada quadrilátero (em porcentagem), das médias dos seus resultados (20 amostras) e da média da 100 amostras da área sob estudo.(para as quinta e sexta épocas).

Quadro 2d – Distribuição em níveis de fertilidade* dos resultados analíticos das amostras de cada quadrilátero (em porcentagem), das médias dos seus resultados (20 amostras) e da média da 100 amostras da área sob estudo.(para as sétima e oitava épocas).

Com relação à época de amostragem pode-se verificar que todos os elementos tiveram seus teores diminuídos na 8a amostragem em relação à 7 a (ou mesmo à qualquer outra), ver Quadros 2 e 3. Então pode-se admitir que o preparo revolveu o solo trazendo terra de baixo para cima fazendo com que o nível dos elementos caísse. Então pode-se dizer que a época de amostragem é fundamental para uma boa avaliação da fertilidade do solo com vistas à um programa de recomendação de adubação para a cana-de-açúcar. Se as amostras forem retiradas com a cultura presente o nível de fertilidade será super estimado em relação àquele obtido após o preparo do solo. Esse efeito poderá ser menos sentido se for feita uma amostragem à uma profundidade maior, por exemplo, 40 cm.

Verificou-se a seguir como a média dos resultados das combinações entre amostras de quadriláteros diferentes se encaixavam nos níveis de fertilidade estabelecidos por CATANI e JACINTHO (1) e em função desses níveis construiu-se os Quadros 4, 5, 6, 7, 8, 9,10 e 11.

É de se notar que o nível de potássio varia de "baixo" para "médio" nas diferentes amostragens. Isto é, em função da análise de potássio no solo revelar um teor que está muito próximo do limite entre os citados níveis, sendo que pequenas variações analíticas nos levam a incluí-lo ora no nível "médio" ora no nível "baixo’ O estabelecimento de um valor que limite os níveis de fertilidade é outro grande problema da interpretação da análise de solo conforme foi salientado por REED e NELSON (3).

QUADRO 4 - NÍVEIS DE FERTILIDADE* DAS MÉDIAS DOS RESULTADOS ANALÍTICOS DAS AMOSTRAS CORRESPONDENTES AOS TRATAMENTOS DE N^0s 1 A 6 - COMBINAÇÃO ENTRE QUADRILÁTERO. 1^a. AMOSTRAGEM.

Pelo exame dos Quadros 4 a 11 podemos observar que os tratamentos T₄, T₅ eT₆ apresentam um nível de fertilidade idêntico àquele apresentado pela média das análises de 100 amostras de terra retiradas da área sob estudo (9 ha).

Portanto a área uniforme de 9 ha com a cultura de cana-de-açúcar presente teve sua fertilidade média estimada por 2 amostras compostas de 4 a 9 amostras simples retiradas em posições distanciadas e combinadas nas proporções: 1 na linha para 3 na entrelinha; 1 na linha para 5 na entrelinha e 1 na linha para 8 na entrelinha.

QUADRO 5 - NÍVEIS DE FERTILIDADE* DAS MÉDIAS DOS RESULTADOS ANALÍTICOS DAS AMOSTRAS CORRESPONDENTES AOS TRATAMENTOS DE N^0s 1 A 6 - COMBINAÇÃO ENTRE QUADRILÁTEROS. 2^a. AMOSTRAGEM.

QUADRO 6 - NÍVEIS DE FERTILIDADE* DAS MÉDIAS DOS RESULTADOS ANALÍTICOS DAS AMOSTRAS CORRESPONDENTES AOS TRATAMENTOS DE N⁰S 1 A 6 - COMBINAÇÃO ENTRE QUADRILÁTEROS. 2^a AMOSTRAGEM.

 QUADRO 7 - NÍVEIS DE FERTILIDADE* DAS MÉDIAS DOS RESULTADOS ANALÍTICOS DAS AMOSTRAS CORRESPONDENTES AOS TRATAMENTOS DE N^0S 1 A 6 - COMBINAÇÃO ENTRE QUADRILÁTEROS. 4 ^a AMOSTRAGEM.

Pelo exame do Quadro 11 que corresponde à 8^a. amostragem e onde já não havia cultura presente, podemos dizer que qualquer tratamento representa a média geral, sendo as pequenas disparidades encontradas devidas ao fato do valor revelado pela análise ser muito próximo ao limite de níveis.

Portanto a área uniforme de 9 ha com a cultura ausente (após o preparo do solo) teve sua fertilidade média estimada por 2 amostras simples retiradas em posições distanciadas da área. Esse baixo número de amostras representativas de uma área homogênea também foi observado por CHITOLINA (2) que afirma que do ponto de vista estatístico, a tomada de uma única amostra simples apresenta o mesmo nível de fertilidade do que a tomada de 20 amostras simples para a formação da composta.

Como se pode verificar teve-se sempre o cuidado de salientar a necessidade de se retirar as amostras simples em posições distanciadas entre si na área considerada uma vez que a amostragem em áreas restritas visando a estimativa da fertilidade média de uma área maior conduzirá à erros nessa estimativa.

QUADRO 8 - NÍVEIS DE FERTILIDADE* DAS MÉDIAS DOS RESULTADOS ANALÍTICOS DAS AMOSTRAS CORRESPONDENTES AOS TRATAMENTOS DE N^0S 1 A 6 - COMBINAÇÃO ENTRE QUADRILÁTEROS. 5^a AMOSTRAGEM.

QUADRO 9 - NÍVEIS DE FERTILIDADE* DAS MÉDIAS DOS RESULTADOS ANALÍTICOS DAS AMOSTRAS CORRESPONDENTES AOS TRATAMENTOS DE N^0S 1 A 6 - COMBINAÇÃO ENTRE QUADRILÁTEROS. 8 ^a AMOSTRAGEM.

O presente trabalho teve também como objetivo a verificação do efeito da umidade do solo no momento de sua retirada sobre o teor dos elementos analisados. Para tanto foi determinada a média do teor de umidade de cada época de amostragem e embora houvesse variação entre elas (um máximo de 22,9% de umidade (U%) na 3 ^a amostragem e um mínimo de 16,6% umidade (U%) na l ^a amostragem não foi detectado nenhum efeito sobre os elementos analisados.

QUADRO 10 - NÍVEIS DE FERTILIDADE* DAS MÉDIAS DOS RESULTADOS ANALÍTICOS DAS AMOSTRAS CORRESPONDENTES AOS TRATAMENTOS DE N^0S 1 A 6 - COMBINAÇÃO ENTRE QUADRILÁTEROS. 7 ^a AMOSTRAGEM.

QUADRO 11- NÍVEIS DE FERTILIDADE* DAS MÉDIAS DOS RESULTADOS ANALÍTICOS DAS AMOSTRAS CORRESPONDENTES AOS TRATAMENTOS DE N^0S 1 A 6 - COMBINAÇÃO ENTRE QUADRILÁTEROS. 8 ^a AMOSTRAGEM.

Em função dos resultados obtidos pode-se concluir que a área uniforme de 9 ha ocupada anteriormente com cultura de cana-de-açúcar teve sua fertilidade média estimada por 2 amostras simples retiradas em posições distintas da área e após o preparo do solo.

No caso da necessidade de retirada de amostras com a cultura presente podem ser retirada 2 amostras compostas de 4 amostras simples na proporção de 1 amostra na linha para 3 nas entrelinhas. Entretanto, a amostragem feita com a cultura presente poderá subestimar a necessidade de adubação.

1. trabalho publicado nos anais do 3o Congresso da STAB, realizado em São Paulo (Brasil) – 19 a 24 de agosto de 1984.

The objective of this study was to define the most adequate manner of sampling soil in sugarcane renewal areas, attempting to estimate the number of representative samples in the area, the location of simple samples, since there may be two locations for taking samples (row and interrow), the form of combining simple samples and the influence of time on taking samples (taking into account the crop’s stage of development and soil moisture). It was concluded that two simple samples taken in two separate positions after soil preparation were sufficient to estimate the average fertility of the uniform area of 9 ha previously planted with sugarcane. In case it is necessary to sample the soil when the crop is present, two samples consisting of four simple samples (at the proportion of one sample in the row for three in interrows) may be taken. However, sampling with the crop present may underestimate the need for fertilization.